É uma anomalia da posição do maxilar (superior) e / ou da mandíbula (maxilar inferior), em relação à base do crânio, que tem como consequência um impacto negativo na oclusão dentária e / ou na estética facial e que pode ser acompanhada de anomalias localizadas da forma, sobretudo da mandíbula.
À deformidade dentofacial podem associar-se outras anomalias, sendo as mais frequentes, a nível funcional, as que afectam a fonação (fala), as articulações têmporo-mandibulares e a respiração (restrição do espaço respiratório faríngeo, que facilita a instalação de apneia obstrutiva do sono) e, a nível estético, as anomalias da forma e / ou tamanho que do nariz e as orelhas.
Neste tipo de anomalias reconhece-se uma relação directa com a hereditariedade. No entanto existem muitos casos em que a sua possível origem dificilmente se esclarece. Na maioria dos casos, as crianças crescem aparentemente sem qualquer problema facial ou dentário até aos 8 anos e, só a partir dessa idade, se começam a notar sinais de desarmonia dentária ou facial.
Outras causas, menos frequentes, envolvem doentes com anomalias congénitas, sequelas de traumatismo e outras causa mais raras como tumores condilianos, acromegalia consequente a tumor hipofisário, sequelas de irradiação durante a fase de crescimento, etc.
São 3 as razões principais, que nunca se encontram isoladas.
Problemas de estética facial. O paciente “não gosta de se ver e quer melhorar a sua aparência”.
Problemas de estética dentária. O paciente não gosta do aspecto dos seus dentes.
Problemas funcionais. O paciente tem dificuldade em mastigar ou falar, tem dores nas articulações têmporo- mandibulares, a posição dos dentes não permitem a confecção de próteses dentárias, ressona muito, tem apneia obstrutiva do sono, etc.
A maioria dos pacientes são enviados para a nossa consulta pelos respectivos médicos dentistas/ortodontistas já com a indicação da necessidade de tratamento ortodôntico-cirúrgico.
Os objectivos do tratamento são a correcção das anomalias funcionais e, segundo os desejos dos doentes, a melhoria da estética facial.
O tratamento correcto de uma DDF envolve dois tipos básicos de procedimentos: utilização de aparelhos ortodônticos fixos, em ambas as arcadas, e cirurgia designada “ortognática”. Por vezes, a presença de anomalias localizadas da forma obriga à colocação, numa segunda operação, quase sempre com anestesia local, de uma prótese correctora da forma/volume.
Após a formulação do diagnóstico e do plano de tratamento ortodôntico-cirúrgico, o paciente inicia a preparação ortodôntica, com aparelhos fixos que se manterão até ao final de todo o tratamento. Quando se atingirem as posições dentárias programadas, confirmadas com moldes das arcadas, o doente é operado, sob anestesia geral. Após a alta hospitalar, reinicia o tratamento ortodôntico. Terminado o período activo de tratamento o paciente deverá usar dispositivos de contenção, para consolidar as novas posições dentárias.
O tempo de preparação é uma decisão conjunta do ortodontista e do cirurgião.
Muitos casos podem ser operados imediatamente. Nestes, o aparelho fixo deverá ser colocado nos dias anteriores à cirurgia para, durante o procedimento, facilitar os processos de fixação óssea e, após, permitir o início da ortodontia imediatamente, aproveitando um fenómeno biológico facilitador da movimentação dentária que se verifica nos primeiros meses do pós-operatório. A redução do tempo de tratamento é muito acentuada razão pela qual é o método mais procurado pelos pacientes, em particular pelos que já foram sujeitos a anteriores tratamentos ortodônticos e que não alcançaram os objectivos desejados.
Se os movimentos dentários necessários para atingir as posições programadas, são muito amplos, a preparação será mais longa. Em média demora cerca de 1 ano. Os movimentos dentários devem ser lentos, biologicamente aceitáveis para que não subsistam sequelas (reabsorção radicular) após o tratamento que podem levar a futura perda dos dentes afectados.
A nossa face constitui a nossa identidade para o meio que nos envolve.
Em cirurgia facial os objectivos estéticos são tão importantes quanto os funcionais.
Para os doentes com marcado défice estético é evidente que o objectivo facial é o mais importante. Muitos, não só desejam como procuram a mudança. Será sempre o paciente a definir até onde poderão ir as modificações fisionómicas que deseja que efectuemos. Para quem não está envolvido no tratamento, familiares ou amigos, é evidente que o que mais os impressiona são a alterações faciais possíveis de atingir.
Aqueles que procuram tratamento por alterações funcionais, por exemplo, por terem uma mordida aberta anterior moderada, não desejarão, em princípio, alterar a sua fisionomia. Logo, o objectivo cirúrgico passará também pela manutenção da sua aparência anterior.
O trabalho da equipa médica consiste em utilizar todos os meios ao seu alcance para conseguir as modificações fisionómicas programadas e expectáveis.
Toda a cirurgia será executada por via intra-oral. Não haverá cicatrizes cutâneas. As suturas são reabsorvíveis.
O paciente é operado sob anestesia geral.
São criadas condições de forma a reduzir ao mínimo a perdas de sangue. O uso de hipotensão controlada, a infiltração local de vasoconstritores, a dissecção restrita e a rapidez de processos, reduz, por princípio, a necessidade de transfusão só a pacientes com outras patologias que a isso obriguem.
O tempo médio de internamento é de 24 horas.
Depende do plano cirúrgico. Pela experiência da nossa equipa e tendo em atenção as estatísticas da Clínica da Face, se estiver previsto operar só o maxilar superior ou a mandíbula demorará cerca de 1 hora e meia e, no caso de cirurgia bimaxilar (maxilar e mandíbula) 2 horas. Se necessitarmos fazer algum complemento cirúrgico do tipo mentoplastia (queixo), rinoseptoplastia (nariz), otoplastia bilateral (orelhas) poderá demorar mais 1 hora.
A cirurgia das deformidades é conhecida no meio médico pela enorme quantidade de horas que tradicionalmente demora. As médias são tomadas tendo como padrão o tempo necessário para executar uma cirurgia bimaxilar. Mais de 90 % das equipas, que em todo o mundo executam este tipo de cirurgia, demoram entre 4 e 6 horas numa cirurgia bimaxilar.
Os riscos são os inerentes a toda a grande cirurgia executada sob anestesia geral. A especificidade da intervenção cirúrgica não aumenta o risco. Normalmente, os riscos diminuem proporcionalmente à experiência dos médicos das equipas cirúrgicas.
E depois da cirurgia, vou padecer muito?
Salvo alguma situação excepcional, terminada a cirurgia o doente transita, acordado, para uma “sala de recobro” onde beneficiará de cuidados especializados. É-lhe colocado um dispositivo de refrigeração facial. Duas horas mais tarde, passa para o seu quarto. A mandíbula estará livre para mover-se. Poderá falar ou alimentar-se. O edema facial será moderado e a medicação será administrada por via intravenosa. Esta medicação terá em vista controlar o edema, prevenir dores e infecções e o reposicionamento hidroelectrolítico.
Sendo esta a evolução normal, há que acautelar casos isolados de reacção exagerada à dor ou de edema (inchaço).
Uns dias antes da cirurgia é-lhe fornecida informação impressa sobre “Cuidados Pré e Pós-Operatórios”, que deve ler, guardar e cumprir, compreendendo que a falta de cooperação pode resultar na diminuição ou ausência dos efeitos esperados.
Após a alta hospitalar poderá alimentar-se convenientemente, recorrendo às instruções impressas que lhe serão fornecidas.
As restrições alimentares duram 12 dias.
Ao fim de 3 dias pode começar a fazer caminhadas progressivas (acompanhado).
Os pontos de sutura serão reabsorvidos.
Em condições normais poderá voltar à actividade profissional em 10 dias.
A observação de adultos de 45 anos que apresentam DDF não tratada, revela sobretudo três contrariedades:
Perda acentuada de dentes por doença periodontal, consequência das extrusões dentárias devidas às discrepâncias intermaxilares.
Perda acentuada de dentes molares por cáries.
Dificuldade em confeccionar próteses dentárias.
A estes problemas poderemos somar, naqueles que tem uma mandíbula pequena ou recuada, o envelhecimento facial precoce, a roncopatia e a apneia obstrutiva do sono, com todas as suas consequências.
É essencial, para que se estabeleça uma relação de confiança entre o doente e a equipa que o vai tratar, que aquele tenha acesso a situações previamente tratadas e que possa contactar com outros doentes cuja situação clínica possa assemelhar-se à sua. A Clínica da Face facilita e estimula este convívio.
A. Matos da Fonseca
Médico | Cirurgião Maxilofacial
Director da Clínica da Face
Lisboa – Portugal