Na maioria dos casos as crianças crescem, aparentemente, sem qualquer problema facial ou dentário até aos 8-9 anos e, só a partir dessa altura, se começam a denotar sinais de desarmonia dentária e/ou facial cuja etiologia dificilmente se esclarece. São os seus médicos-dentistas que habitualmente chamam a atenção para a existência das anomalias e esclarecem os doentes sobre a possibilidade de tratá-las.
São três as razões que levam os doentes à consulta: problemas de estética facial – o doente quer melhorar a aparência da face, problemas de estética dentária – o doente não gosta da posição dos dentes anteriores e sintomas ou problemas funcionais – o doente tem dificuldades a mastigar ou a falar, tem dores nas articulações têmporo-mandibulares, ou sofre de apneia obstrutiva do sono.
O tratamento correcto de uma DMF compreende dois tipos básicos de procedimentos que se complementam: a utilização inicial de aparelhos ortodônticos fixos em ambas arcadas e, mais tarde, cirurgia designada “ortognática”. Os objectivos do tratamento são a correcção das anomalias funcionais, e, segundo o desejo dos doentes, a melhoria da estética facial.
Após a formulação do diagnóstico e do plano de tratamento inicia-se o tratamento de preparação ortodôntica. Esta fase dura cerca de 1 ano e meio. Serve para colocar os dentes numa posição que permita, durante a cirurgia, posicionar os dentes numa relação oclusal aceitável e proporcionar ao doente uma aparência agradável.
Os aparelhos estarão presentes nas arcadas durante todo o período activo de tratamento.
O objectivo estético é tão importante quanto o funcional. Nenhum doente aceitaria, após o tratamento, apresentar um aspecto facial pior do que aquele que tinha antes. Para os doentes com marcado défice estético é evidente que o objectivo facial é o mais importante. Muitos não só desejam como procuram a mudança. Cerca de 1/3 dos doentes não são operados por razões estéticas.
Aqueles que procuram tratamento por alterações funcionais não desejarão, em princípio, alterar a sua fisionomia. Nestes casos, o objectivo cirúrgico passará também pela manutenção da sua aparência anterior.
Sob anestesia geral e por via intra-oral “desarma-se” a estrutura óssea facial implicada e deslocam-se os segmentos, para posições previamente calculadas e ensaiadas em laboratório. Nas novas posições são fixados com placas e parafusos de titânio ou de material reabsorvível. Não haverá cicatrizes cutâneas.
À deformidade maxilofacial poderão associar-se outras anomalias nomeadamente do nariz e as orelhas, que poderão ser corrigidas simultaneamente.
Durante a cirurgia são criadas condições de forma a reduzir ao mínimo as perdas de sangue: uso de hipotensão controlada, infiltração local de vasoconstritores, dissecção restrita e rapidez de processos, de forma a dispensar as transfusões de sangue.
Depende do plano cirúrgico. Se estiver previsto operar só o maxilar superior ou a mandíbula, demorará cerca de 1 hora e meia. Cirurgia bimaxilar (maxilar e mandíbula) duas horas.
Se necessitarmos fazer algum complemento cirúrgico do tipo mentoplastia (queixo), rinoseptoplastia (nariz), otoplastia bilateral (orelhas), agregamos mais 1 hora.
Estes procedimentos são muito complexos e sofisticados, requerendo alta diferenciação técnica e tecnológica e treino para os executar. Todo o risco diminui se uma intervenção cirúrgica for executada por um cirurgião qualificado e experiente.
Os riscos são os inerentes a toda a grande cirurgia executada sob anestesia geral. A especificidade da intervenção cirúrgica não aumenta o risco. Na cirurgia ortognática as complicações são raras. As lesões nervosas persistentes associadas à cirurgia da mandíbula são actualmente raras, já que as actuais melhorias técnicas visam evitar o seu dano.
As maiores complicações são iatrogénicas e resultam de erros de avaliação diagnóstica, estratégias mal escolhidas e cirurgia mal executada, tendo como consequência um resultando estético e/ou funcional inadequado, duvidoso ou insuficiente.
É preocupante pensar que as sequelas cirúrgicas se podem sobrepor aos problemas pré-existentes e que levaram à cirurgia.
As modificações fisionómicas programadas devem corresponder aos desejos do doente. Para quem não está envolvido no tratamento é evidente que o que mais impressiona são a alterações faciais passíveis de atingir. Isto acontece nos doentes com défices estéticos marcados.
Depois da cirurgia o doente não estará entubado, poderá falar e a mandíbula estará livre para moverse.
Algumas horas depois poderá alimentar-se. O edema facial será moderado e a medicação será administrada por via intravenosa.
Esta medicação terá em vista controlar o edema, prevenir dores e infecções e o reposicionamento hidroelectrolítico.
O tempo médio de internamento é de 24 horas. Após a alta hospitalar poderá alimentar-se convenientemente, recorrendo a uma dieta líquida durante dois dias, e mole até ao fim da segunda semana. Em condições normais poderá voltar à actividade profissional em 10-12 dias.
Não, a existência de uma deficiência no crescimento da face nem sempre implica uma anomalia aparente. É curioso constatar que os deficits de crescimento, excepto quando exagerados (micrognatismos), não são habitualmente reconhecidos ou são bem tolerados. É comum que o recuo da mandíbula não seja notado durante a infância e a adolescência.
Estes deficits de crescimento da mandíbula são, quase sempre, interpretados pelos pais como excessos de crescimento do maxilar superior, subvertendo por completo a realidade. Pior, é que muitos dentistas também fazem a mesma confusão, aplicando aparelhos e extraindo dentes no maxilar que nada tem de anormal, o superior.
Estes tratamentos, não só alteram a harmonia facial com aparecimento prematuros de sinais de envelhecimento facial – flacidez, enrugamento, linhas de marioneta e papada, como contribuem para o aparecimento de distúrbios associados ao sono – roncopatia e apneia obstrutiva do sono.
É frequente a preocupação das senhoras pelo aparecimento da “papada”, redundância dos tecidos moles, na região submentoniana. Muitas procuram na lipoaspiração a solução, outras no “lifting” cervico-facial. Ambas as soluções são inadequadas em presença de um recuo mandibular ou mentoniano. O tratamento adequado passará sempre pelo reposicionamento anterior da mandíbula ou do mento, associado ou não à lipoaspiração ou ao “lifting”.
Uma cirurgia facial bem sucedida é o resultado de um bom entendimento entre o doente e o seu cirurgião. Nas consultas prévias à cirurgia desenvolver-se-á a confiança, baseada em expectativas realísticas e no reconhecimento da exigente perícia da equipa cirúrgica.