Esta necessidade deve-se ao facto de, na prática, cada lábio ter características morfológicas e funcionais intrínsecas, mas estas dependerem também das diferentes estruturas da face onde repousam e, cada um, segundo o sexo ou a idade ou a raça poder ter uma interpretação estética diferente.
Quando mencionamos o lábio superior referimo-nos basicamente à região anatómica que se estende desde a base das narinas ao bordo vermelho do lábio superior. O lábio inferior é a zona que vai do bordo vermelho inferior ao sulco lábio-mentoniano.
Os componentes intrínsecos da beleza labial são o seu volume de tecidos (lábios grossos ou finos), a sua projecção, o grau de demarcação do seu contorno, a percentagem de exposição do vermelhão, a simetria, a motilidade e a sua proporção no conjunto da face.
Em média, o comprimento (altura) ideal para um lábio superior de uma mulher adulta jovem é de 20mm (+- 2mm).
No homem são 2mm mais. Raramente um lábio superior é curto. Os maiores problemas no lábio superior são o excesso de comprimento e a falta de projeção.
O lábio inferior deve ter aproximadamente o dobro da altura do superior. De perfil, o lábio superior projecta-se mais que o inferior. O maior problema do lábio inferior é o excesso de projeção, a sua queda para a frente, com eversão do vermelhão.
Num adulto jovem, o que é que pode dar ao lábio superior um aspecto fino e uma projeção indesejada? Ter em conta a existência de um volume limitado de massa de músculo orbicular (factor intrínseco). Estar atento aos factores extrínsecos – o excesso de projecção da ponta de um nariz com um ângulo nasolabial muito aberto (normal 95-105º) que provoca um aspecto de “lábio pendurado” e que se pode corrigir com uma rinoplastia, os dentes incisivos superiores numa posição muito vertical ou retro-inclinada, necessitando de correcção ortodôntica, o maxilar superior numa posição recuada ou a mandíbula muito recuada, o que se corrige com cirurgia ortognática. Estes procedimentos são quase sempre suficientes para dar ao lábio o volume, a projecção e a postura adequadas. A própria estrutura muscular do lábio pode ser modificada com procedimentos cirúrgicos adequados.
Pintar os lábios, em jovens portadoras de anomalias de crescimento dos maxilares, acentua a aparência do problema. Os único batons aceitáveis são de cores muito claros e opacos.
A alteração mais perversa que sofre o lábio superior de um adulto é a progressiva atrofia dos músculos e tecidos conjuntivos peribucais, com consequente perda do tónus, o que leva à perda de projecção e queda do bordo livre. O tónus perilabial começa a diminuir, paulatinamente, a partir dos 35 anos de idade, conferindo ao lábio um aspecto mais pregueado e mais fino, com redução gradual da exposição do vermelhão. Acumulam-se nas causas factores genéticos e ambientais, a exposição solar e ao tabaco.
Sobretudo na beleza facial feminina, a quantidade de exposição dentária aparente entre o bordo do lábio superior e o bordo dos dentes incisivos superiores é primordial; durante o repouso ou durante o sorriso. O ideal é que em repouso as jovens mostrem 3 a 3,5 mm de coroa dentária para que durante no sorriso mostrem até 1 mm de gengiva. Acima deste limite considera-se o sorriso “gengival”, bastante inestético. Como, a partir dos 35 anos, a exposição dentária começa a diminuir por abaixamento do bordo do lábio superior, o facto de uma jovem ter uma exposição dentária de 3 a 3,5 mm atrasará a diminuição de exposição futura.
Ao contrário, uma diminuição excessiva da exposição dentária numa jovem, devida a factores extrínsecos como um défice de crescimento vertical do maxilar superior, ou por remoção excessiva da altura do maxilar numa cirurgia ortognática, é um dos factores que mais contribuem para o deficit estético e para o envelhecimento facial precoce.
Em condições normais, o aparente aumento da altura do lábio superior, por perda de tónus, estima-se que seja de meio milímetro cada 5 anos, a partir dos 35 anos estabilizando aos 65 anos. A diminuição de exposição é agravada por factores extrínsecos como a perda da dimensão vertical da oclusão dentária por perda ou desgaste progressivo dos dentes.
A queda progressiva do lábio superior vai aumentando as rugas verticais e horizontais, vai diminuindo a projecção e a exposição dentária superior em repouso e durante o sorriso e constitui um dos problemas mais difíceis de corrigir durante o envelhecimento da face. Agrava-se a situação se houver perdas dentárias da região incisiva superior ou diminuição da dimensão oclusal vertical por perda de dentes posteriores.
A queda do lábio inferior pode dever-se a factores musculares, como a perda de tónus ou a factores extrínsecos como a perda da dimensão vertical da oclusão e que se corrige com reabilitação dentária, a inclinação exagerada dos incisivos inferiores para diante, empurrando o lábio, que se corrige com ortodontia, ou à falta de suporte ósseo do mento (queixo) nos pacientes que o têm pouco desenvolvido e que se corrige com uma mentoplastia de avanço.
O diagnóstico das anomalias dos lábios é negligenciado a maioria das vezes. Não obstante a presença clara e quase constante de factores extrínsecos implicados na perda das características de beleza do lábio superior, o foco, estimulado pelos média, está na utilização de produtos de preenchimento (fillers). Todo o resto é ignorado.
Assim, passámos a ter os lábios como as estruturas do corpo que mais sofrem iatrogenia.
Apesar das infiltrações de “fillers” serem consideradas simples sob o ponto de vista técnico, as expectativas dos pacientes nem sempre são atingidas. O que deseja a paciente: Quer os lábios maiores? Quer os lábios mais definidos? Mais projetados? Quer mostrar mais vermelhão? A grande maioria, como é natural, não sabe bem o que deseja e delega em que vai injetar o produto (existem pelo menos 20 diferentes tipos de atividades ou profissionais que o praticam) a decisão do que fazer.
Estes devem ter um efeito temporário. Os permanentes devem ser evitados porque podem levar a complicações permanentes.
Os produtos de preenchimento reabsorvíveis e em particular o ácido hialurónico revolucionaram o paradigma dos produtos injectáveis de preenchimento porque, sendo um produto nativo do corpo humano, não são necessários prévios testes de alergia como nos produtos bovinos e a duração dos efeitos é mais prolongada, que com os produtos de origem bovina, chegando aos 8 meses.
O tratamento com estes produtos não deve ser apresentado como um procedimento “num só tempo”, mas como uma cautelosa sequência de preenchimentos na procura do resultado mais satisfatório para o paciente.
Um dos problemas práticos, durante a infiltração, é o facto de esta provocar inchaço local imediato, dificultando a avaliação do resultado da mesma. O cirurgião tem dificuldade em saber quando parar e se a simetria está estabelecida. Por isso se deve seguir o princípio terapêutico – é preferível infiltrar menos que demais. O critério que seguimos é o de a paciente voltar 2 semanas depois e em conjunto com o cirurgião avaliar da necessidade de corrigir uma área menos infiltrada ou uma pequena assimetria.
Outro problema, bem mais complexo, é que o peso do próprio produto de infiltração faz baixar ainda mais o bordo do lábio o que potencia ainda mais o envelhecimento. Este efeito, que podemos considerar paradoxal, porque é contrário ao que se pretende, contraindica a infiltração na maior parte dos casos e indica que a terapêutica eficaz, nos casos de lábio superior senil longo, é cirúrgica.
A cirurgia do lábio senil longo dispõe atualmente de estratégias mais elaboradas que se baseiam em incisões mais limitadas, utilização de ancoragens ósseas para suspensão e plastia musculares.